đ Crypta Ă© alvo de ataques machistas apĂłs shows esgotados!
A banda brasileira Crypta, hoje considerada um dos principais nomes do death metal extremo feminino mundial, voltou a enfrentar uma velha e incĂŽmoda conhecida: a resistĂȘncia de parte da cena que ainda enxerga a presença feminina no metal como algo a ser combatido.
A nova onda de ataques começou antes mesmo da turnĂȘ nacional 2025, com piadas e comentĂĄrios depreciativos pipocando nas redes. No entanto, ganhou força apĂłs um podcast com Jairo Guedz, guitarrista lendĂĄrio, ex-Sepultura e atual lĂder do The Troops of Doom, no qual o mĂșsico relatou um episĂłdio de desrespeito que teria ocorrido durante um show recente.
No vĂdeo â que viralizou em grupos de metal no Brasil â Jairo menciona que sua banda teria sido tratada com falta de consideração por parte da equipe de produção ou headliners de um festival. Embora em momento algum o mĂșsico cite diretamente a Crypta, trechos da fala foram interpretados por parte do pĂșblico como uma suposta crĂtica Ă banda feminina, que dividiu o palco na mesma ocasiĂŁo.
Sem qualquer confirmação, usuårios inflamaram as redes sociais com acusaçÔes de arrogùncia, alegando que a Crypta teria supostamente sabotado a passagem de som ou limitado o tempo do The Troops of Doom no palco.
Fundada em 2019 por Fernanda Lira e Luana Dametto â ambas ex-integrantes da Nervosa â a Crypta nasceu com uma proposta clara: fazer death metal extremo de forma tĂ©cnica, pesada e autoral, rompendo a bolha de um cenĂĄrio historicamente masculino. Desde o inĂcio, o quarteto enfrentou resistĂȘncia de fĂŁs mais conservadores, que viam com maus olhos a ascensĂŁo de uma banda formada apenas por mulheres em um dos subgĂȘneros mais brutais do metal.
Em entrevistas anteriores, Fernanda jĂĄ expĂŽs o machismo explĂcito que a banda enfrenta, desde comentĂĄrios que questionam sua competĂȘncia tĂ©cnica atĂ© tentativas de boicote por parte de pequenos grupos dentro da cena. Ainda assim, a banda segue rompendo barreiras: seu ĂĄlbum de estreia Echoes of the Soul (2021) colocou a Crypta em festivais de peso na Europa, AmĂ©rica Latina e AmĂ©rica do Norte, solidificando sua base de fĂŁs global.
Logo apĂłs a polĂȘmica ganhar corpo, a Xaninho Discos, produtora responsĂĄvel pelo agenciamento da Crypta desde o inĂcio da banda, emitiu nota oficial para pĂŽr fim aos boatos. No comunicado, a Xaninho confirmou que de fato houve um problema de cronograma no evento, mas ressaltou que a falha partiu da produção local â ou seja, os responsĂĄveis pelo palco, montagem e horĂĄrios.
Trecho da nota publicada diz:
âA Crypta jamais agiu com mĂĄ-fĂ© ou falta de profissionalismo. O que aconteceu foi um problema tĂ©cnico e logĂstico que afetou ambas as bandas. Ă importante que fĂŁs e veĂculos de imprensa entendam o contexto antes de espalhar boatos infundados.â
A produtora tambĂ©m criticou a forma como falas de Jairo foram retiradas de contexto: em momento algum o guitarrista afirmou que foi prejudicado intencionalmente pela Crypta â algo facilmente comprovado ao assistir a Ăntegra do podcast no canal do Mundo Metal.
Apesar de suas falas terem sido usadas para fomentar boatos, Jairo Guedz â nome histĂłrico no metal nacional â em nenhum momento fez qualquer ataque direto Ă Crypta. Pelo contrĂĄrio: em outras ocasiĂ”es, o mĂșsico sempre defendeu o respeito entre bandas e a uniĂŁo da cena underground brasileira.
A equipe do Mundo Metal, que publicou o podcast, também reforçou que não compactua com distorçÔes de trechos fora de contexto.
Enquanto isso, os fãs da Crypta seguem fazendo barulho do jeito que mais importa: ingressos esgotados, merch vendida em larga escala e uma comunidade internacional que apoia o som extremo, técnico e pesado do quarteto.
Para Fernanda Lira e suas colegas, a resposta segue sendo no palco: riffs cortantes, blast beats devastadores e letras brutais â tudo o que define o verdadeiro death metal.
Especialistas em cultura do metal apontam que o episĂłdio Ă© mais um capĂtulo de uma perseguição histĂłrica contra mulheres no gĂȘnero â algo que nĂŁo Ă© exclusividade do Brasil. Pesquisas acadĂȘmicas e relatos de artistas mundo afora indicam que o machismo estrutural segue forte em nichos do metal, sobretudo nos estilos mais extremos, onde a imagem de âmĂșsica bruta feita por homensâ ainda Ă© celebrada por uma parcela do pĂșblico.
A Crypta, no entanto, segue colecionando conquistas que desmentem detratores. Recentemente, a banda foi anunciada em line-ups de grandes festivais internacionais, como Wacken Open Air e Hellfest, e prepara material novo para os prĂłximos meses.
Para muitos, episódios assim apenas reforçam que ainda hå muito a ser feito para consolidar a igualdade de espaço para mulheres no metal. Mas cada show lotado da Crypta, cada festival que a banda conquista e cada fã novo que descobre o som extremo feito por essas musicistas são pequenas vitórias contra o preconceito que insiste em resistir.
Para os fĂŁs da Crypta, o melhor antĂdoto contra ataques como esses Ă© o apoio incondicional: comprar ingressos, lotar shows, ouvir os discos, espalhar a mĂșsica. E a prĂłpria banda, ao que tudo indica, nĂŁo pretende perder tempo rebatendo boatos vazios â sua resposta continua sendo nos palcos, nos riffs agressivos, nos blast beats devastadores e na entrega total a um metal extremo feito com a fĂșria e a competĂȘncia que o estilo merece.
Enquanto o machismo insiste em sobreviver entre piadas de internet e interpretaçÔes distorcidas, a Crypta segue. E segue mais forte.
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